A crise provocada pela COVID-19 despertou a atenção para a possibilidade de novas doenças globais. Nesse contexto, num recente estudo publicado naOSFHome, especialistas das Universidades de Cambridge, Oxford e Copenhagen apontam o veganismo para prevenir futuras pandemias, bem como, o papel dos animais na cadeia de transmissão das doenças.
A relação humana com animais e as doenças
Um dos principais pontos abordados pelo estudo se refere às zoonoses (doenças causadas pela transferência de patógenos de animais para seres humanos). Os estudiosos enfatizam que as doenças zoonóticas com potencial epidêmico podem ser transmitidas tanto de animais silvestres de cativeiro (como civetas) quanto de animais de criação ou domesticados (como já ocorrido com gripe suína e gripe aviária).
A emergência de patógenos zoonóticos está aumentando globalmente e a densidade da população humana é um forte preditor de eventos emergentes dessas. De fato, as mudanças induzidas por seres humanos ao se aproximarem da vida selvagem, bem como, da domesticação e criação de animais para consumo, impulsionam o aparecimento de novas doenças.
O estudo explica que, o processo de transmissão de um patógeno de animais requer uma série de estágios. Estes incluem uma quantidade suficiente de animais contaminados, a liberação do patógeno, a exposição humana ao patógeno e fatores intrínsecos ao patógeno para que supere as barreiras estruturais e respostas imunológicas humanas.
Acredita-se que a maioria das doenças infecciosas emergentes tenha se originado em animais selvagens, principalmente primatas, roedores e morcegos. No entanto, também há um consenso de que muitas delas também foram transmitidas por animais de estimação ou de criação.
Criação de animais e as doenças emergentes
A história está cheia de surtos de doenças cuja transmissão foi originada por animais, como exemplo, difteria, sarampo, rotavírus e varíola. Além disso, o contato entre humanos e animais de criação provocou eventos recentes, como a pandemia de H1N1 (gripe suína) em 2009 e MERS em 2012.
Um dos fatores apontados pelos pesquisadores como indutores dessas doenças é o aumento do tamanho da população humana e o desenvolvimento da agricultura comercial, com a criação de animais. O elevado tempo de contato com os animais chamados ungulados, que incluem porcos, ovelhas, cabras e vacas, levou ao compartilhamento de grande número de patógenos.
O estudo traz ainda, a possibilidade da transmissão de doenças de animais exóticos domesticados. Tudo isso porque, surtos de doenças virais já foram diagnosticados após inserção deste seres nos ambientes humanos. Tais animais, são capturados na natureza e comercializados em mercados, sejam eles clandestinos ou não.
O comércio de animais e a transmissão de coronavírus
Os especialistas apontam para as evidências de que os coronavírus que infectam humanos tem origem em espécies de morcegos ou roedores. Há ainda espécies intermediárias, que incluem animais silvestres domésticos em cativeiro, como suínos, civetas e dromedários.
Chama atenção o fato de mais de 200 novos coronavírus foram identificados em morcegos e embora muitos sejam limitados a morcegos, alguns são encontrados em um número mais diversificado, que incluem mamíferos e aves.
Recentemente, a atenção da mídia se voltou para o comércio de animais silvestres, legal e ilegal, devido ao seu papel como potencial causador do surgimento de SARS e COVID-19. Estima-se que o comércio ilegal de animais silvestres seja uma indústria multibilionária, comparável ao comércio internacional de narcóticos e armas.
Tudo isso, levanta preocupações significativas em relação à saúde humana e animal, principalmente devido à falta de fiscalizações. No entanto, apesar de ainda existirem incertezas consideráveis em torno da origem do vírus causador da COVID-19, um vírus relacionado foi detectado em pangolins malaios.
Mudanças estratégicas para prevenção de doenças zoonóticas
O estudo considerou as principais maneiras pelas quais as doenças com alto potencial de transmissão humano para humano podem saltar de animais para humanos. Por fim, direcionaram uma luz para a criação de um futuro em que a sociedade tenha mais segurança em relação às doenças zoonóticas.
Assim, considerando uma ampla gama de opções de prevenção relacionadas a animais selvagens, de criação e domésticos, enfatizaram a necessidade de mudanças generalizadas na maneira como os seres humanos e os animais interagem.
Por fim, o estudo apresenta uma lista com opinião de especialistas internacionais para a prevenção de futuras pandemias. Dentre as 161 medidas elencadas na lista, estão aquelas relacionadas à oferta de animais, como a criação, captura e caça; ao transporte; e ao consumo.
O veganismo para prevenir futuras pandemias
No que se refere ao consumo, os pesquisadores chamam a atenção para o incentivo às mudanças de comportamento. Isso se dá, pela conscientização dos riscos da criação e do comércio de animais, bem como a preocupação com os desafios ambientais, incluindo a perda de biodiversidade.
Quanto ao veganismo para prevenir futuras pandemias o estudo sugere mudanças nas normas sociais para reduzir a aceitação de compra, posse ou uso de animais e produtos de alto risco, tais como:
Promover o desenvolvimento e a comercialização de alternativas ao couro e a carne, como o couro vegano e carne de plantas, por exemplo.
Incentivar a aceitação e o consumo de produtos alternativos e de baixo risco, como os produtos veganos.
Taxar produtos de alto risco para diminuir os ganhos financeiros na negociação destes.
Aumentar a disponibilidade de alternativas de baixo risco nos pontos de venda.
Ampliar a oferta de informação sobre produtos alternativos, demonstrando os menores riscos à saúde e ao meio ambiente.
Na opinião dos autores, a mudança no comportamento humano é a chave para solucionar pela raiz o problema das doenças zoonóticas, portanto, cabe à humanidade repensar o fluxo de suas ações junto aos animais.
Cabe ressaltar que o relatório do estudo está atualmente sendo revisado por pares, um procedimento que garante a validade dos achados.
por Nadia Ferreira Gonçalves em 4 de julho (site veganbusiness)
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